quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dizer não é também amar


Amar não é e nunca será tarefa fácil, exige de nós empenho e decisão. O amor sincero comporta o sofrimento e a doação em favor do outro. Pelo bem do outro, inúmeras vezes, enfrentamos dificuldades que nos causam dor e pesar.
Existem situações nas quais temos de desagradar a quem amamos em virtude de seu próprio bem. Tais decisões são difíceis e doem mais em nós do que naqueles que são objetos de nossa repreensão. Porém, é importante salientar que corresponder sempre e irrefletidamente aos desejos de quem se ama pode se tornar algo negativo, que tende a deformar e não formar. Dentro dessa perspectiva, afirmo que: “Dizer ‘não’ também é uma forma de amar”.
Limites são necessários para qualquer ser humano, pois, por meio deles, alcançamos equilíbrio e maturidade. Pais que não impõem limites aos filhos acabam criando pequenos reis e rainhas e, conseqüentemente, tornando-se seus súditos.
Somente quem já recebeu um “não” na vida consegue compreender a especificidade da palavra humildade. Somente aqueles que não foram correspondidos no que queriam, em algum momento de sua história, sabem compreender que sua vontade não é absoluta e que nem sempre estão certos.
É no “não” e no “sim”, no equilíbrio das possibilidades, que se forma uma pessoa, é assim que o orgulho se ausenta e o ser humano consegue entender que os outros também são bons.
Nem tudo o que queremos é o melhor para nós, porém, nem sempre conseguimos enxergar assim. É aí que descobrimos quem nos ama, pois os que sinceramente se interessam por nós não têm medo de nos dizer a verdade e de nos corrigir quando necessário.
Não é fácil corrigir e dizer 'não'; seria mais fácil e conveniente dizer sempre 'sim' e estar sempre sorrindo, pois quem diz 'não' se expõe e, muitas vezes, atrai sobre si a ira do outro. Quem corrige, mesmo querendo o bem do outro, corre o risco de ser mal interpretado, contudo, demonstra um grande amor e cuidado com o outro.
Só quem nos ama nos diz 'não'. Só quem se interessa por nós tem a sensibilidade de cuidar de nós, através da poda.
Precisamos ter sensibilidade para detectar e aceitar o amor que se manifesta em uma multiplicidade de formas e que nos encontra também naquilo que tanto nos desagrada.
Se enxergarmos assim, sentiremo-nos mais amados e cuidados, evitaremos muitas contrariedades, além de descobrirmos belezas antes não contempladas. Faça essa experiência!

sábado, 16 de outubro de 2010

Carta Pe. Silvio Andrei‏


"A satisfação está no esforço, não apenas no resultado final!"

Olá, a paz de Jesus e o amor de Maria! Espero que essa carta seja lida para o máximo de pessoas possíveis; pois o padre Silvio Andrei me autorizou a enviá-la, na certeza de que eu, e você, sejamos como "um eco" de suas palavras. Com carinho: Vânia Cristina (locutora da Rádio Alvorada - AM 970 - de Londrina)


TRÊS PALAVRAS!
"Orai e vigiai sem cessar"! (1 Ts 5,17)
Depois de um tempo de silêncio e reflexão, sinto o desejo e a necessidade de me comunicar com tantas e tantas pessoas que tomaram conhecimento do triste acontecimento que se deu na minha vida nos últimos tempos. Uma vez li e nunca mais me esqueci da seguinte frase: "Nunca se justifique. Para os amigos, não precisa. Para os inimigos, não adianta". Sendo assim, não tenho nenhuma intenção de me justificar, nem de me defender, pois meu advogado, o Dr. Walter Bittar é a pessoa a quem eu confiei essas funções. Contudo, quero dialogar para esclarecer. Me dirijo respeitosamente a todos através de três palavras.

1 - OBRIGADO. Apesar de todo sofrimento que ainda passo e que provoquei à vida de tantas pessoas, quero, do fundo do meu coração, agradecer as muitíssimas manifestações de amizade, carinho, apoio e presença fraterna na minha vida e na vida da minha família, da Paróquia Rainha dos Apóstolos da Vila Monumento de São Paulo, da Comunidade Palotina e da Igreja, sobretudo da Igreja de Londrina, numa hora de grande tribulação, tempestade, vergonha, medo, tristeza, angústia e arrependimento. Aos Bispos, Padres, Religiosos, Leigos e irmãos até mesmo de outras denominações religiosas que expressaram solidariedade por palavras, gestos e atitudes. À todos, muito obrigado!

2 - PERDÃO. Sei que desapontei, decepcionei e machuquei a muitos. Por isso, venho, pedir perdão a todos que de um modo ou de outro, foram atingidos em consequência da minha imprudência e deste acidente de percurso que sofri na minha vida. Por muitas vezes, me lembrei daquela passagem que diz: "Quem está de pé cuide-se para não cair" (1Cor 10,12). Não cuidei, como deveria ter cuidado. Porém, acredito, que por maior que seja a queda, pela graça de Deus, pelo apoio dos amigos e pelo esforço pessoal, todos podemos nos levantar delas e continuar caminhando com passos firmes e seguros. Com sinceridade, a todos peço perdão!

3 - ORAÇÃO. Partilho que tenho rezado muito. E continuarei rezando para que Deus faça algo de muito bom, na vida de todos, depois da travessia deste "Mar Vermelho". Renovo aqui as minhas orações por todos: pelos que perdoaram ou não; pelos que compreenderam ou não; pelos que criticaram ou não; pelos que fizeram piadas ou não; pelos que riram ou não; pelos que choraram ou não; pelos que sofreram ou não; pelos que sentiram ou não. Renovo o meu compromisso de rezar por todos, sobretudo nesta noite escura pela qual estou atravessando. Me lembro das palavras de Jesus: “Eu, porém, vos digo a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos difamam. A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar a capa, não recuses a túnica. Dá a quem te pedir e não reclames de quem tomar o que é teu. Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Se amais os que vos amam, que graça alcançais? Pois até os pecadores amam aqueles que os amam(...). Muito pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, pois Ele é bom para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes, sereis medidos também” (Lc 6,27-38). Rezo na certeza de que nenhuma noite escura dura para sempre. Rezo na certeza de que Deus transforma o nosso pranto em consolo. Rezo na certeza de que Deus transforma nossas maiores quedas em verdadeiras lições de vida, prá gente viver melhor e servir mais. Rezemos uns pelos outros. A oração nos faz humildes e fortes. A oração ilumina a nossa vida! Tenho consciência da minha pequenez, da minha miséria. Mas, mesmo assim, continuarei rezando para que Deus dê vida em abundância para todos!
Deus abençoe e proteja a todos nós! Amém!
A Jesus e Maria consagro as nossas famílias!!!

Pe. Silvio Andrei, SAC.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A esperança é o combustível da vida


A esperança corresponde à aspiração de felicidade existente no coração de cada pessoa. Interessante observar que quem perde a esperança mais profunda perde o sentido de sua vida; sem esperança viver não tem sentido. O próprio antônimo dessa palavra é DESESPERO, ou melhor, a perda quase que em estado definitivo da esperança. E este [desespero] é capaz de corroer o coração.

A esperança é a vacina contra o desânimo e contra a possibilidade de invasão do egoísmo, porque apoiados nela nos dedicamos à construção de um mundo melhor. A perda da esperança endurece nossos sentimentos, enfraquece nossos relacionamentos, deixa a vida cinza, faz a vida perder parte do seu sabor. Porém, todos os dias somos atingidos por inúmeras situações que podem nos desesperar.

A esperança é o combustível da vida, a forma de mantê-la viva é não prender os olhos nas tragédias, pois a cada desgraça que contemplamos corremos o risco de perdê-lo [combustível]. Existe na mitologia grega a presença de uma figura interessante: uma ave chamada fênix, que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas. A fênix, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do sol nascente, possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava.

A impressão causada em outros animais por sua beleza e tristeza chegava a lhes provocar a morte. Nossa vida passa por este processo várias vezes num único dia, ou seja, sair das tragédias para contemplar a beleza que não morreu, a vida que existe ainda, como fazia essa ave mitológica. Alguns historiadores dizem que o que traria a fênix de volta à vida seria somente o seu desejo de continuar viva, depois de completar quinhentos anos elas perdiam o desejo de viver e aí se morressem não mais reviviam. O desejo de continuar a viver era sua paixão pela beleza, que é a vida.
Vida sem sabor é uma vida sem perspectivas; quem cansou de tentar, cansou de lutar e desistiu de tudo, uma vida que apenas espera o seu fim, por pensar que nada que se faça pode mudar coisa alguma. Quem perdeu a capacidade de sonhar, o desejo de felicidade confundiu-se com a utopia. Felizmente não existe motivo para desanimar, lembrando as palavras de São Paulo: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Não falamos aqui de qualquer esperança, mas da autêntica esperança, que não se apóia em ilusões, em falsas promessas, que não segue uma ilusão popular em que tudo se explica.

A esperança verdadeira, vinda de Deus, é uma atitude muito realista, que não tem medo de dar às situações seu verdadeiro nome e tem sempre Deus como fator principal. Não tem medo de rever as próprias posições e mudar o que deve ser mudado.
À medida que perdermos ilusões e incompreensões temos o espaço real no qual pode crescer a esperança, que nada mais é do que a certeza de que tudo pode ser melhor do que o que já vemos. E o desejo de caminhar na direção da vida, atraídos pela sua beleza que no momento pode somente ser sonhada, mas é contemplada pelo coração.
O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Ninguém vive se não espera por algo bom, que seja bem melhor do que o que já conhece, já possui ou já experimentou. Deus alimenta nossa vida por meio da esperança!

domingo, 3 de outubro de 2010

A arte de reconciliar-se com os próprios limites



A limitação é uma realidade profundamente inerente ao humano. Ser gente significa ser essencialmente limitado e marcado pela fragilidade.
Não existem super-homens – por mais que a sociedade e as circunstâncias atuais façam com que muitos acreditem sê-lo –, toda pessoa humana é marcada por algum tipo de imperfeição, com a qual, em algum momento de sua história, terá que se encontrar.

Ninguém é bom em tudo, ninguém consegue ser perfeito em todas as dimensões de sua vida: há quem seja bom no trabalho, mas falho nos estudos; assim como há aqueles que são perfeitos em casa como pais e esposos, mas nunca conseguem ascensão profissional; ainda existem aqueles que são ótimos nos esportes e péssimos na dimensão relacional/afetiva; da mesma forma, há os que possuem muitos amigos, mas não conseguem se firmar em um namoro ou relacionamento sério; e assim por diante. Todos portamos algum tipo de imperfeição e limite, com os quais teremos de aprender a “dialogar” em nossa trajetória pela vida.

A verdadeira virtude consiste em saber, de fato, dialogar com os próprios limites, reconciliando-se constantemente com eles e buscando realmente integrá-los àquilo que somos, visto que somos um “acontecimento” composto por virtude e fraqueza.
A maturidade só será concebida no coração que soube relacionar seus prós e contras, suas virtudes e limites, integrando-os ao que se é (com consciência da própria verdade) e buscando assim potencializar as virtudes e trabalhar as fraquezas.

O autoconhecimento é essencial em todo processo de crescimento e maturação enquanto gente, e principalmente, o conhecimento dos próprios limites. Do contrário, a pessoa será eternamente escrava de uma ilusão desencarnada acerca de si, não podendo crescer e experienciar a alegria e a liberdade que brotam do fato de reconciliar-se com os próprios limites.

Há limites que poderemos vencer, contudo, há aqueles com quais teremos que aprender a conviver… Quem não aceita os próprios limites acabará empregando – inutilmente – uma imensa energia no combate a um inimigo fictício, gerando assim um conflito interior desnecessário, pelo fato de combater uma realidade que deveria, em vez de negada, ser agregada ao todo que o compõe.
O limite é algo natural e até mesmo pedagógico no processo humano: negá-lo seria negar a própria humanidade e dependência do Eterno.

Reconciliar-se com os próprios limites: eis um passo de sabedoria que nos faz mais completos e encontrados em nossa verdade. Tenhamos a coragem de assurmir tal postura e atitude, e contemplemos os belíssimos frutos que procederão de semelhante prática e compreensão.