terça-feira, 8 de março de 2011

Convertei-vos e crede no Evangelho


Jesus inicia a sua pregação convidando a todos à conversão, que não é outra coisa senão viver em penitência, com atitude de renúncia ao passado e presente para um novo estilo de vida, marcado pelo anúncio do Reino. “Completou-se o tempo, e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1, 15) O evangelho é boa nova, é dom, nunca Jesus obriga alguém a viver a sua palavra, mas convida com amor, com insistência, deixando a liberdade que fica sempre ao homem que pode dizer o seu sim ou o seu não. A liberdade é oferta de Deus e resposta do homem. Mas toda conversão vai exigindo uma decisão forte e corajosa por parte de cada um de nós. Converter-se é romper com o que não está certo e fazer um caminho de volta, de retorno.Jesus não pede muitas coisas aos pecadores para voltarem ao caminho certo, somente duas que são fundamentais para qualquer pessoa que queira ser sinal vivo do Senhor.

1)Penitência: isto é, atos concretos de despojamento, de morte ao mal. Uma determinada determinação de assumir uma vida nova. Toda mudança exige esforço e treino.

Às vezes eu me pergunto quantos sacrifícios e renúncias em vista de um prêmio fazem os atletas? O apóstolo Paulo lembra muito bem isso quando diz: “Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um alcança o prêmio? Correi, pois, de modo que o alcanceis.” (1Cor 9, 24) Ascese, sacrifício, renúncia… são meios para se chegar à meta que é Cristo.

2)Compromisso de não pecar mais: O perdão é gratuito mas tem um preço para que seja eficaz, não pecar mais. É o que Jesus sempre pede depois que ele perdoa, como no caso da mulher adúltera: “os teus pecados estão perdoados, vá em paz e não peques mais.” É exigência fundamental da vida. Davi relembra: “Ensinarei os teus caminhos aos pecadores”. O apostolado dos pecadores convertidos é ensinar e educar para que outros não cometam o mesmo erro. Não devemos ter medo do nosso passado, mas sim do nosso futuro. É o que Jesus nos recorda: “Não peques mais para que não te aconteçam coisas ainda piores”. É advertência e não maldição.

Quatro formas penitenciais:

Brevemente, porque este não é um tratado sobre a virtude da penitência mas são simplesmente ideias e luzes que vão iluminando a vida de cada um de nós e cabe a nós sabermos assumir as atitudes mais necessárias e mais adequadas para nossa vida concreta.

1. A oração

A oração vista como forma de penitência. Nem sempre é fácil rezar, é necessário uma renúncia constante de outros valores e atividades, às vezes muito mais agradáveis. É um momento de encontro com o invisível que nos chama à intimidade com Ele. Exige uma força de vontade não indiferente para sermos fiéis à nossa oração pessoal, comunitária e litúrgica. Todos os dias participar da Eucaristia, rezar o terço… são formas de fidelidade que revelam um caráter que se formou na escola dos profetas e dos santos. Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz sobre este aspecto apresentam um caminho de esvaziamento, de renúncia sem o qual não será possível chegar à plenitude de Deus.

2. A esmola

A verdadeira esmola não é o “supérfluo, o inútil”. Quem faz limpeza na época da Campanha da Fraternidade em sua casa, dando aos pobres tudo o que é inservível, não faz caridade alguma, simplesmente desrespeita o irmão e faz dele “o cesto do lixo”. É necessário na caridade dar o que está “dentro do nosso prato”, o que é bom e não o descartável. Até os grandes supermercados acham que fazem caridade dando os produtos um dia antes de terem a validade vencida. Precisamos rever a nossa atitude de vida de caridade e de esmola como virtude da “penitência”. Todos sabemos como é difícil se privar de algo que gostamos para fazer alguém feliz.

3. O jejum

O jejum é a forma mais tradicional da “penitência”. Atualmente na Igreja os jejuns são “reduzidíssimos”, são dois e se a Igreja tirar também estes dois não tem problema nenhum… Mas jamais a Igreja poderá tirar do evangelho e da práxis o espírito penitencial do jejum, que é participar da paixão de Cristo, sermos solidários com os que sofrem, dividir o que temos. São atitudes necessárias no seguimento de Jesus. Não é permitido o “luxo” que fere a dignidade dos pobres. O evangelho é algo de muito austero e simples, sem negar a alegria em nada. Tudo é santo quando os nossos olhos forem santos e puros.

4. O vestir-se

A maneira de se vestir sempre manifestou atitudes interiores. Já os Padres da Igreja, Agostinho e Jerônimo são muito duros com aqueles que se vestem ricamente para se mostrar, para aparentar uma beleza passageira. A beleza não está nem nos vestidos nem nas jóias, mas sim nas “virtudes que adornam nossa alma”. A forma como nos vestimos revela o que buscamos, a essencialidade de Deus. Mas o desleixo não revela o devido respeito ao corpo, “sacramento” do amor infinito de Deus, mas sim puro descuido, e isto não vem do Senhor. Pode-se vestir pobremente, mas com dignidade e profundo amor.

Um comentário:

  1. Neste momento propício de conversão, de renovação de vida, e meditando sobre as palavras do Padre Luiz, avalio que a conversão de Paulo está entre os principais e mais importantes fatos que constituem a história de toda igreja cristã. Porque a experiência de Paulo antes da conversão nos mostra como a religiosidade sem conhecimento pode ser extremamente destrutiva, constituindo-se numa forte oposição a obra de Deus. Por um lado observamos naquele momento, também nos dias de hoje, o intento de Deus em proporcionar uma oportunidade para que pessoas, que como Paulo, apesar de estarem lutando contra a verdade, pensam estar a serviço de Deus. Conhecendo Deus o zelo e a sinceridade de Paulo para com a religião e que o mesmo não agia apenas movido pela arrogância humana, mas com o propósito de agradar ao próprio Deus. O Senhor escolheu Paulo para ser o maior missionário da igreja primitiva, como também o maior teólogo dessa igreja, depois de Jesus, é óbvio. A chamada desse apóstolo nos proporciona um dos mais belos momentos do Novo Testamento, no qual o próprio Jesus aparece para Paulo em visão e fala diretamente com ele.
    Próximo ao fim da viagem, de repente Paulo foi cercado por um resplendor de luz do céu. Perseguindo a Igreja, Paulo perseguia o Corpo de Cristo cujos membros individuais estão em Cristo. Então Jesus acrescentou: "Dura coisa te é recalcitar contra os aguilhões”. Por essa resposta Jesus reconhecia que o motivo principal da perseguição de Paulo contra os cristãos estava em não ter ele resposta adequada para os seus argumentos. Era uma reação por meio da qual ele tentava resistir à convicção do Espírito Santo.Mas agora que se via enfrentado por esse fato e por Cristo, não apenas como o homem Jesus mas como divino Senhor, ele simplesmente respondeu "Senhor, que farei?" Isto mostra uma completa mudança na atitude de Paulo, o que constitui evidência de genuíno arrependimento de sua parte.
    E sinto que assim é hoje também para nós todos E assim também somos nós. E esta é a pergunta que fazemos "Senhor, e agora que farei?
    Jesus nos chama a todo momento para perto dele, para vivenciar a vida ao lado dele, com ele agindo em nosso coração, em nossos pensamentos e atitudes e principalmente dentro de nossa vida como cristãos. Andar nos caminhos de Jesus é luz, é o encontro da verdade e de nós mesmo, daquilo que está enraizado em nós desde o princípio e que temos muitas vezes medo de manifestar e viver.
    E assim como ele nos chama a todo momento porque não nos abandona, assim também deve ser nossa vida, uma busca permanente por este caminho, reconhecendo nossas limitações e fraquezas e trabalhando com isso para crecermos.
    O importante é persistir no Senhor porque somente Ele nos fortalece, somente ele é nosso rochedo.

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