sexta-feira, 1 de abril de 2011

Filhos da Luz


A Liturgia de hoje continua
a CATEQUESE BATISMAL da Quaresma.
- Vimos o símbolo da ÁGUA, com o episódio da Samaritana.
- Hoje prossegue o tema da LUZ, com a cura do cego.
- E veremos o tema da VIDA, com a ressurreição de Lázaro...

As Leituras nos lembram a Luz da fé recebida no Batismo
com a vela acesa na mão, e também nos exortam a "viver na Luz".

Na 1ª leitura Davi é UNGIDO para rei de Israel. (1Sm 16,1b.6-7.10-13a)

* A Unção de Davi, eleito pessoalmente por Deus,
é figura profética da Unção Batismal dos cristãos.

Na 2ª Leitura, Paulo salienta a necessidade de viver
como filhos da "Luz", renunciando as obras das trevas e
produzindo frutos de bondade, justiça e verdade (Ef 5,8-14)

No Evangelho, Jesus UNGE um cego com "Barro",
revelando-se como a "Luz do Mundo",
que veio libertar os homens das trevas. (Jo 9,1-41)

São João costuma tomar um fato da vida de Jesus como ponto de partida
para desenvolver um tema básico da mensagem cristã.
A cura do cego descreve o processo de fé de um homem,
que vai passando das trevas da cegueira, para a luz da visão,
e desta para a Luz da fé em Cristo.
O "Cego" é símbolo de todos os homens que renascem pela fé,
acolhendo a Jesus (no Batismo) e deixando-se conduzir pela sua palavra.

Tudo começa com uma PERGUNTA dos discípulos a Jesus:
- "Por que esse homem nasceu cego?"
Seria castigo de Deus? Quem pecou?
- Jesus RESPONDE: "Nem ele, nem seus Pais pecaram..."
E continua a sua resposta, passando das palavras aos atos.

Na CURA, para dar a "Luz" ao cego, Jesus usa um método estranho:
Com saliva faz "barro" na terra, unge com esse barro os olhos do cego
e manda lavar-se na piscina de Siloé.
A cura não é imediata: requer a cooperação do enfermo.
- A disponibilidade do cego sublinha a sua adesão à proposta de Jesus.
- O banho na piscina do "enviado" é uma alusão à "Água de Jesus".
- Lembra também a água do BATISMO para quem quiser sair das trevas
para viver na luz, como Filhos de Deus...

Depois, o Evangelho coloca em cena vários PERSONAGENS:

- Os VIZINHOS percebem o dom da vida que vem de Jesus,
mas não dão o passo definitivo para ter acesso à Luz.
Representam os que percebem a proposta libertadora de Jesus,
mas não estão dispostos a sair da sua vidinha, para ir ao encontro da "Luz".

- Os FARISEUS conhecem a "luz", mas se recusam em aceitá-la.
Acusam-no de transgredir a lei do sábado e expulsam o cego da sinagoga.
Representam aqueles que conhecem a novidade de Jesus,
mas não estão dispostos a acolhê-lo e até hostilizam os seus seguidores.

- Os PAIS constatam o fato, mas evitam comprometer-se...
É a atitude de MEDO dos que não tem coragem de passar das trevas para a Luz.
Preferem a segurança da ordem estabelecida, do que correr riscos...

- O CEGO é questionado pelas AUTORIDADES sobre a origem de Jesus.
E ele, como "pessoa iluminada", mostra-se: Livre (diz o que pensa...);
corajoso (não se intimida); sincero (não renuncia à verdade);
suporta a violência (é expulso da sinagoga).

- JESUS reaparece no fim: vai ao seu encontro, inicia um DIÁLOGO,
que culmina com um belo ato de fé do cego: "Eu creio, Senhor".

A Transformação do cego é progressiva:
- Antes de se encontrar com Jesus, é um homem prisioneiro das "trevas",
dependente e limitado. "Não sabe quem o curou"...
- Depois, a "luz" vai brilhando aos poucos na sua vida.
Forçado pelos dirigentes a renegar a "luz" e a liberdade recebida,
recusa-se a regressar à escravidão...
- Finalmente, encontrando-se com Jesus,
que lhe pergunta: "Acreditas no Filho do Homem",
manifesta sua adesão total: "Creio, Senhor". Prostra-se e o adora.

* O Caminho de fé do cego é um itinerário para todo cristão:
O Encontro com Jesus ... a Adesão à "Luz" e
um progressivo amadurecimento no Conhecimento de Cristo.
Esse caminho desemboca na adesão total a Jesus,
ao ser lavado pelas águas batismais.

O Prefácio sintetiza:
"Jesus conduziu à Luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas.
E elevou à dignidade de filhos os escravos do pecado,
fazendo-os renascer das águas do Batismo".

Nesta Quaresma, somos convidados a viver a experiência catecumenal,
renovando o nosso Batismo, mediante o Sacramento da Penitência.
Quanto mais buscamos Jesus como "Luz", mais nossa vida terá sentido.
Com Jesus, a Luz da Vida jamais perderá o seu brilho.

Como o cego, renovemos a nossa fé, cantando:

Deixa a luz do céu entrar! (ou Creio, Senhor...)

Um comentário:

  1. Ontem ao ouvir este Evangelho padre, enquanto você estava fazendo a leitura na missa, fiquei impressionada com a coragem desse cego.Porque Coragem? Porque ele se deixou “jogar-se” nas mãos de Jesus. Alguém em que primeiramente talvez havia apenas ouvido falar. Alguém a quem não conhecia. E essa primeira entrega desencadeou fatos significativos em sua própria fé. Jesus o curou. Devolveu-lhe a visão, fez este homem ter luz e voltar a ser gente, a ter uma vida digna. E Jesus iria fazer de qualquer forma porque é misericordioso, porque sua vida sempre foi voltada para a acolhida aos menos favorecidos, aos rejeitados, aos excluídos.
    Mas pense bem e foi assim que também essa passagem me tocou o coração na pessoa desse cego. A coragem primeira de se deixar acreditar que aquele homem que ele não via, que ele não conhecia o levaria a enxergar. Muito antes de ele professar a sua fé, ele acreditou primeiro naquele homem que estava ali e se propunha a dar a ele algo que nunca teve e que jamais sonhou em viver. Jesus lhe despertou a esperança através de seu amor gratuito e o envolveu de luz muito antes da luz vir a seus olhos. A cura de um cego de nascença por Jesus que passa e faz-nos caminhar também por uma longa estrada, contemplando uma série de significados. E para compreender melhor esse significado do evangelho, cada um de nós pode (e deve) se reconhecer nele, neste cego. Porque penso que deixando de dar nome ao cego o evangelista está nos convidando para colocar aí o nosso nome.
    Então, muito bem clara e verídica sua colocação dos envolvidos e a postura de cada um no episódio todo. Porque nós também hoje, muitas vezes caminhamos como cegos que não queremos ver, porque não temos a coragem de assumir as conseqüências do caminho e missão a trilhar do que a luz nos faria ver, como fez este cego corajoso ao ser pressionado e até excluído de sua comunidade em defesa daquele que o beneficiou e que acreditou ser a salvação de sua vida.Tudo começa com Jesus passando. Ele passa e as coisas mudam. A passagem de Jesus é sempre transformadora. As coisas não continuam, definitivamente, a ser como eram. Adquirem novo significado e provocam a inclusão de todos no amor do Pai. A presença de Jesus é provocante e iluminadora. Ninguém que viveu a experiência dos seus passos pode dizer que vive nas trevas. Só que essa iluminação não é instantânea, nem automática.
    Para participar efetivamente da Eucaristia é preciso ver, enxergar, ver e enxergar o que está por trás desses sinais. Não preciso de paramentos chiques nem de ostensório caríssimo para aumentar a minha fé. Preciso apenas ser capaz de, naquele pedacinho de pão erguido acima de um modesto cálice, enxergar a morte, a separação do corpo e do sangue, que tira o pecado do mundo, que liberta a humanidade, enredada na cobiça. A cura de nossa cegueira virá quando enxergarmos Jesus que vem até nós trazendo a Água Viva para lavar os nossos olhos contaminados pela concupiscência da carne e se fazendo Eucaristia para tocar em cada um de nós, fazendo brilhar a sua luz.
    Para quem encontra Jesus, não há meios termos: ou se reconhece necessitado d’Ele e da sua luz, ou passa sem Ele. Neste último caso, uma certa soberba impede tanto o que se julga justo diante de Deus, como o que se considera ateu, de se abrir à conversão autêntica
    Pai, abre meus olhos para que, pela fé, eu reconheça teu filho Jesus, e possa beneficiar-me da força libertadora que dele provém.

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